Enfermagem é uma profissão que dedica o seu saber e acção em todo o percurso da vida humana desde o nascer, na saúde e na doença, como indíviduo e como colectivo inserido na sociedade e consequentemente na familia, até ao culminar da vida: conviver com a morte e a ansiedade faz parte do quotidiano dos profissionais de enfermagem e familiares.
A definição de enfermagem como ciência confunde-se com os primeiros cuidados prestados em Traumatologia e nos respectivos tratamentos, em particular no conflito de Guerra tal e qual Florence Nightingale a desenvolveu, mostrando a que os cuidados de saúde não se limitavam aos actos médicos e que careciam a existência duma outra profissão que ela definiu como sendo: *”(…)uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!”.*
A Ortopedia é um campo que sofre constantes mutações, sendo um desafio aos profissionais de enfermagem, devido à peculiaridade dos cuidados a serem executados, necessitando sempre de aperfeiçoamento para um atendimento seguro e eficiente, havendo até um desconhecimento na formação de novos enfermeiros e mesmo das hierarquias de decisão e gestão, estando muitas vezes alguns programas desajustados no contexto da especificidade dos cuidados a desempenhar perante estes utentes.
Parece haver uma tendência para desvalorizar a inclusão de temas relacionados com a Ortopedia, sobretudo, as técnicas de execução dos vários cuidados de enfermagem, nas cargas curriculares dos cursos de Enfermagem em Portugal, criando alguns constrangimentos aos alunos, na altura de realizarem os seus estágios nos serviços hospitalares de Ortopedia.
Os problemas que afectam os sistemas muscular, esquelético e articular, congénitos ou resultantes de doenças metabólicas e degenerativas, e de traumas de origem intencional ou não, são um importante problema de saúde pública não só por atingirem uma percentagem cada vez maior da população incluindo jovens e adultos jovens, como também, pelos custos pessoais (dor ou desconforto, impossibilidade de, muitas vezes, manter os hábitos de vida, que podem gerar isolamento e síndromes depressivos) e sociais (aumento de absentismo e elevados custos em tratamentos médicos e de enfermagem que hoje em situação de crise impera diminuir).
No idoso a patologia mais associada é a fractura de fémur, o aumento da longevidade e o decréscimo da natalidade tornam o envelhecimento um fenómeno de amplitude mundial. A prevalência de quedas e outros problemas de saúde crónicos, nesta população, justifica uma intervenção por parte dos enfermeiros no que se refere à promoção e autonomia do indivíduo. Existem, ainda, outros factores que têm contribuído para a alteração do perfil do utente dos cuidados nos nossos serviços de saúde: hoje vivemos no mundo das velocidades e de pressões laborais em todas as dimensões! Um exemplo decorrente desse facto é a sinistralidade que se reverte em taxas de mortalidade, mas também de morbilidade e incapacidade permanente, cujos custos económicos e psicossociais são difíceis de calcular, sendo necessário, profissionais de enfermagem, que deem resposta eficaz à especificidade destes problemas.
O utente de ortopedia requer uma atenção especial quanto às lesões da pele; por este apresentar, de forma agregada ou isolada, ferimentos de etiologia cirúrgica (incisão ou excisão); traumática (agressão mecânica, térmica ou química) e, crónica (fisiopatologia subjacentes, por exemplo, a úlcera de pressão). Neste campo e um pouco dentro da etiologia da Enfermagem os enfermeiros em Ortopedia têm uma mais valia em conhecimentos teóricos e práticos conscientes não só na execução, selecção do apósito e técnica como conscientes dos factores que podem aumentar o risco para o comprometimento da integridade da pele do utente, como, estado nutricional e perfusão dos tecidos alterados, fragilidade capilar, idade, posicionamento prolongado no leito e alteração da mobilidade, sendo problemas que importa serem minimizados.
Para lá das patologias ortopédicas associam-se os acidentes de trânsito e laborais na população adulta, em idade produtiva com as inerentes conseqüências (custos à vítima, à família e à sociedade). Hoje, é do conhecimento geral, que os acidentes continuam a ser um factor importante para a ocorrência de incapacidades permanentes,para os quais os sistemas de saúde têm mostrado baixa capacidade de resposta.
Os profissionais de Ortopedia procuram dar esta mesma resposta: tratar / cuidar de doentes em todas as idades e todas as patologias, desde crianças recém-nascidas com o pé boto ou luxação congénita da anca, até fracturas do colo do fémur em idosos exigindo aos enfermeiros em Ortopedia estarem preparados para responder eficazmente a todas as situações que lhes são apresentadas, a partir dum planeamento baseado no levantamento das necessidades, dúvidas, dificuldades encontradas na assistência ao utente e num espírito multidisciplinar que dá uma autonomia diferente em relação a outras especialidades.
O enfermeiro executa não só os cuidados mas actua como educador, que é um dos seus papéis fundamentais enquanto profissional, servindo de elo nos cuidados para a saúde não só ao utente mas também à família e comunidade.
A intervenção não pode ser direccionada exclusivamente para a recuperação ou adequação à limitação física, mas, tem que se estabelecer uma abordagem integradora em que o próprio indivíduo e a família/cuidador sejam protagonistas no processo de cura/reabilitação. Isto permite que o utente mobilize as suas próprias energias físicas, psicológicas e sociais que irá repercutir-se inevitavelmente no processo de recuperação e reintegração social.
A Enfermagem em Ortopedia tem um papel decisivo no sucesso da recuperação e reintegração do paciente na sociedade, consciente disso, o grupo de enfermeiros a trabalhar em Ortopedia, acredita na importância da busca do aprimoramento do conhecimento técnico e científico, que pode também ser adquirido através da troca de informações e experiências entre os diversos profissionais/serviços com o objectivo único de garantir um atendimento de qualidade, pois a multiplicidade de situações e patologias assim o requer, certos que o muito feito pressupõe o muito para fazer.
Pensem nisso…
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