segunda-feira, 17 de março de 2014

História do Ilizarov

O que mais incomodava Ilizarov eram as patologias ósseas e as constantes amputações oriundas delas. Por conta dessa preocupação, tomou para sí a obrigação de criar um método que permitisse a osteoplastia (restauração de um osso com auxílio de fragmentos ósseos) e regeneração óssea.
Ilizarov efetuou um grande estudo de tudo o que existia até então em Ortopedia e Traumatologia. Dissecou a anatomia do tecido ósseo, os fixadores externos existentes, assim como diversas publicações de médicos como Lambotte, Putti, Goosens, July, Anderson, Hoffmann, Haynes e Charnley.
Em todos os seus estudos Ilizarov encontrou um consenso: o sucesso de um novo método teria que ter como base o respeito à anatomia do osso e a integridade do seu tecido.
Ilizarov observou que os instrumentos até então utilizados proporcionavam uma estabilidade cada vez maior através de uma montagem cada vez mais rígida. Tal rigidez, no entanto, retirava do osso as informações necessárias para que este podesse acelerar o processo de osteogênese (formação e desenvolvimento do tecido ósseo). Era necessário então criar um aparelho que fosse ao mesmo tempo estavel, não permitindo desvios entre os fragmentos do osso fraturado e ao mesmo tempo elástico, não retirando do osso as informações dadas pela transmissão das forças.
Não se sabe quantos protótipos Ilizarov projetou até conceber o modelo final do seu aparelho. O importante é que ele partiu de uma idéia e não desistiu dela até transforma-la em relidade: o seu Método Biológico de Osteoplastia e Regeneração Óssea.
O fixador circular de Ilizarov utiliza fios de aço de pequenos diámetros (para evitar lesões ósseas extensas) que transfixam o osso em cruz no seu centro axial em um plano perpendicular ao eixo das extremidades ósseas, e os fixam a anéis externos por meio de parafusos especialmente desenhados os quais são por sua vez conectados a hastes rosqueadas. A fim de aumentar a estabilidade produzida pelos fios finos, ele os tensiona, conferindo maior estabilidade à  montagem.
Os principios biológicos da doutrina de Ilizarov fazem parte de conhecimentos antigos da natureza, mas de descoberta tão recente. O uso e adequação dos processos reparadores são a essência terapêutica da patologia do aparelho locomotor; esta é a proposta terapêutica de Ilizarov. O autor desenvolveu o modo de se obter uma neoformação óssea (formação de novo seguimento ósseo) num foco de fratura, com uma distração epifisiária (esticamento da cartilágem), ou numa corticotomia(separação córtex ósseo, deixando o suprimento sangüíneo intramedular intacto), quando são submetidos a uma distensão mecânica (esticamento) dosada.
Com uma série de experimentos, demonstrou que os tecidos osteogenicamente mais potentes são a medula óssea, com sua vasta vascularização e o periósteo (uma membrana muito vascularizada, fibrosa e resistente, que envolve por completo os ossos, excepto nas articulações).
Deste modo, se a vascularizaçao desses tecidos não for lesada, e se forem respeitados fatores de natureza mecânica como a estabilidade e ritmo de distração, pode-se garantir a regeneração óssea. A resposta bológica se estende secundariamente nas partes moles, onde se instaura uma nova dimensão ao segmento esquelético. É portanto, através da interação de fatores biológicos (respeito à medula óssea e periósteo) e qualidades mecânicas do aparelho que se desenvolve uma neo-osteogênese.
Ilizarov aperfeiçoou seu método e curou milhares de pacientes. Seu reconhecimento oficial veio, no entanto, apenas muitos anos depois, em 1978, quando tratou o ginasta e medalhista olímpico Valeri Brumel, acidentado com grave fratura óssea na perna que, após o tratamento com o métido Ilizarov, voltou competir conseguindo assim conquistar a medalha de ouro nas olimpíadas de Moscou.
O fato gerou-lhe grande notoriedade na antiga União Soviética, com direito ao Prêmio Lenin, a mais alta condecoração da URSS e lugar de honra na Academia Soviética de Ciências, tendo sido considerado como herói do povo.
Mesmo assim, e até por conta do regime fechado soviético, o seu método continuava desconhecido em todo o ocidente.
Um dia porém, o jornalista, fotógrafo e explorador italiano Carlo Mauri, que sofria há muito tempo no tratamento de uma fratura da tíbia, esteve, mesmo doente, em expedição à Rússia, quando lá conheceu o médico Yuri Alessandrovich. Yuri, penalizado com a situação de Mauri, o estimulou a procurar o Professor Ilizarov em Kurgan, cidade situada na planície da Sibéria Ocidental, através dos Montes Urais.
Em 4 de Abril de 1980, Carlo Mauri foi operado pelo professor e 4 meses após, estava com sua infecção curada, seu tornozelo corrigido, e seu encurtamento compensado. Finalmente livre de seu sofrimento, Mauri voltou para a Itália e passou a escrever sobre o “Michelangelo da Ortopedia”.
Entusiasmou os médicos italianos sobre a eficiência do método e em junho de 1981, o Professor Ilizarov foi convidado a falar em um Congresso Médicona cidade de Bellagio nas margens do Lago de Como.
Seis meses depois, umadelegação de médicos entre eles, Villa, Cattaneo, Catagni, Argnani, Benedetti, Canutti e Bianchi-Maiocchi, viajaram ao Instituto Científico, Ortopédico e Traumatológico Experimental e Clínico (KNIIEKOT) a fim de aprofundar-se na metodologia Ilizarov.
Em 1982, é fundada em Bellagio a ASAMI (Associazione per lo Studio e Applicazione del Método Ilizarov). O método foi então divulgado para a Europa, e associações foram criadas em Portugal, Espanha, França e Bélgica.
Em 1986, durante a jornada dos Ex-Residentes do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo o Professor Bianchi-Maiocchi, expôs no Brasil, pela primeira vez, a metodologia de Ilizarov. Em Dezembro do mesmo ano fundou-se a ASAMI brasileira.
Em 1989, a ASAMI realizou um grandioso evento quando trouxe ao Brasil ninguém menos que o Professor Ilizarov para ministrar o I Curso Internacional do Método.
Hoje, a metodologia é amplamente reconhecida, respeitada e divulgada em vários países das Américas, Europa e Ásia. Seus principios são cada vez mais difundidos ajudando seus praticantes a curar e a melhorar as condições de vida de milhares de pacientes por todo o mundo.

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